Passeio pelas ruas deste Rio sem saber como vim cá parar.
Encontro-me e desencontro-me nos opacos que me rodeiam, dou-lhes significados e
vivo as minhas memórias com prazer ou desprazer singular. Como se o lembrar
fosse por si só um acontecimento, com emoções próprias e autonomamente criando
memórias de memórias que se escrevem sozinhas, que alteram factos e constroem
realidades.
A ideia de que tudo o que penso fica gravado no tempo como o
nome de dois namorados talhados na casca de uma árvore, assusta-me.
Uma espécie de claustrofobia de mim mesmo, um desejo de
brotar para fora desta mente, deste corpo e apenas ser, como o mar, como o
vento. Às vezes bebo para me esquecer que existo, para me esquecer que penso.
Porque pensar que penso no que estou a pensar cansa.
Estar sóbrio é uma aventura, cheia de memórias, pensamentos,
detalhes, visões e cheiros. Sinto que tenho montes de teclados, ratos e
touchpads e falta-me um processador para assimilar toda a informação. Só que o
utilizador sou eu. Não é o mundo que entra por mim a dentro, sou eu que não sei
parar de me identificar em tudo. Há dias felizes em que toda a gente sorri,
outros mais tristes em que todos olham o chão ou fazem caras desagradáveis.
Vivo toda a gente!
Tenho saudades da minha casa, para poder descansar, mas essa
casa já não existe, não sei se já existiu. Acho que a minha primeira casa vai
ser a que eu vou construir, o meu lar, com as minhas coisas. Parece que nada é
meu. Tudo flutua.